Minha Fobia
Um mundo que inventamos é todo
cheio de encaixes, dobradiças e peças arduamente talhadas para caber em
contornos definidos, em nítidos contornos delineados por uma fantasia
de controle.
O mundo que inventamos é o mesmo que esquecemos que inventamos, é aquele que tomamos como pronto, naturalizamos a mecânica inventada. Temos medo do caos.
Medo de encarar um mundo de desejos sem nome, de peças disformes,
plásticas, que não se moldam. Que escorrega ao invés de fixar-se. Medo
do que não é mecanismo inventado.
Tanto medo que o diferente, vira
logo, rápido, mais um contorno definido, forma e lugar pronta, pronta
para tantos outros que gelatinosos ousam vir a ser um ser livre e sem
lugar.
Temos medo do cheiro não domesticado. Medo do sexo
indefinido. Medo de ser outro, outro que não é feito ao nosso feitio,
medo do não perfeito.
Eu tenho medo...fobia.
Medo do homem que
coça o saco e cospe no chão. Medo da mulher que só assiste filme de
comédia romântica. Medo do homem que ao se perceber desejoso por outro
homem se encaixa em baladinhas, em gritinhos e pompons coloridos e segue
se achando diferente, diferente e igual a tantos que como ele se
orgulham da diferença reproduzida, do naturalmente inventado. Medo da
mulher que ao sentir prenha de desejo por outra mulher, se encaixa no
balcão do bar e bebe, brindando um lesbian chic de botique.
Medo do medo. Medo do meu medo de não conseguir dizer o quanto encaixes, porcas,parafusos e engrenagens me amedrontam.
Necésio Pereira - colaborador artístico do Transitório 35 -
para o Dia Internacional Contra a Homofobia e a Transfobia, 17 de maio.
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